sábado, 24 de janeiro de 2015

AMIZADES E (DES)ENCANTOS

Tem gente que fascina. Faz, compartilha, aprofunda e mantém laços de amizade. Possui carisma, ímã, atração por pessoas. Ser amigo de gente assim é possuir pontes para chegar a outros. O repertório só aumenta.

Tem gente que não multiplica amigos. Troca-os. Ao conhecer novos, substituem os antigos. A substituição não constrange. Mas, aquele que manteve a amizade por anos,
décadas até, não digere que mudou o status: Tornou-se marginal para aquele por quem nutria respeito e consideração.


Tem amigos mão-única. Suga-lhe sem dó. Usará seus préstimos sempre. Tomará de você emprestado. Fará de você claque, plateia, expectador, divã, para contar suas aventuras, dramas e vitórias. Mas não cederá ouvidos a você. Não terá paciência para ouvir seu drama. Amizade onde só um ganha: Ele(a). Uso e abuso de tempo, afeto e recursos.

Tem gente que é movido pela conveniência. É capaz de tornar-se um “grande e velho amigo” de ocasião. Oportunista poderá fazer de você um Top Ten no rol de amigos, de acordo pontualmente com uma necessidade que deseja preencher ou vantagem que precisa aferir de você.

Esse é aquele(a) que quer ser lembrado, mas não lembra. Quer ser visitado, mas não visita. Quer receber sua felicitação, mas não felicita.

Recebi algumas “vítimas” da amizade mão-única na Clínica. São pessoas que dividem afeto, investem, compartilham, mas... São sugadas, abusadas, exploradas afetivamente pelo “amigo”. Querem fazer, manter e aprofundar as relações, mas, cedem, investem e inflam o outro(a). O quadro é um amplificador de alta-estima baixa quando não um processo depressivo.

E basta uma circunstância para que você prove e experimente do que se trata sua relação – qual tamanho, diâmetro, peso, altura, profundidade. Só mesmo uma coleção de tropeços, privações e tristezas, mostrarão onde estão (situadas) as pessoas do seu ciclo de amizade.

No primeiro caso o bom praça poderá atrair os do quarto caso – os de conveniência.

Nutrir expectativas é um lance cada vez mais perigoso. Pode ser que seus restos fique no chão. O conceito de amizade tem se confundido cada vez mais com "amizade". Mais ainda quando a sua lista de contatos da Rede Social é nomeada de Amigos. Ter mil contatos não equivale a possuir mil amigos. O adjetivo tornou-se banal.

No segundo caso – o dos “trocadores”, eles são fáceis de serem identificados. Quando você for “promovido” à segundo e até terceiro plano, perceberá... Não surpreende nalguns, mas noutros, verdadeira decepção. Será que você se sentiu trocado por quem mais afirmou sua amizade ou por aquele(a) que você considerou seu “melhor amigo”? (É um duro golpe quando aquelas relações que você tinha como de aço, não passava de vidro... As circunstâncias revelam-na).

Os do terceiro caso são situações mais complexas. Dá vontade de partir pra cima, denunciar (jogar na cara) e pagar pra ver: Haverá um realinhamento ou... Esse tipo de diálogo confrontativo a gente sabe quando começa mas nunca como termina. Vai muito do quanto você acha que poderá fazer ver o que é amizade de “mão-dupla”. Ou, será uma amizade ma non tropo.

A figura do Melhor Amigo é que tem sido algo complicado. Tem gente que consagra alguém ao panteão dos best friends de forma rápida, leve, solta. Aí tem outras considerações: Há quem se comporte, socorra, considere de forma pesada, valorosa como se fosse um Melhor Amigo – mesmo que seja de um conhecimento recente. E há quem você aguarde gestos à altura de um Melhor Amigo, mas, que não obstante as muitas experiências de partilha e anos de estrada, lhe deixe na mão. E lá vem a tal expectativa que formamos dos outros.

Ao ler estas alucinações você deve estar com seu estoque de compreensão cheio. Compreensão para não fazer juízo célere sobre aqueles que você se relaciona. Uma expectativa não respondida numa circunstância pontual não deve ser decisiva sobre aqueles que corresponderam muitas vezes. Amizade a gente procura manter, reacender... Quantas vezes a gente acha que valha a pena. Há pessoas melhores que suas atitudes. O “conjunto da obra” conta sobre um vacilo.

Há amigos que são resultados de reabilitações diversas. E a gente mesmo não socorre à altura do que esperam de nós. Portanto, devagar... Dê a compreensão que você também precisa do outro(a).

Sejamos feitores, aprofundadores, protetores, protagonistas e proclamadores de verdadeiras amizades. De mãos-duplas. Desinteresseiras ou isentas. Incondicionais. Inteiras. Façamos check ups e manutenções das que cultivamos. E nos preparemos para novas conexões. 


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