terça-feira, 15 de julho de 2014

PERDOAR É ESQUECER?

PERDOAR É ESQUECER?

Perdoar: Relações leves e soltas;
Pedir perdão: Forte como as águas;
Fazer sempre: Como as ondas do mar...
Moisés, após seu crime, teve uma segunda chance; e que chance: A liderança do povo hebreu do Egito à Terra Prometida, e não apenas isso, tornou-se o principal ícone da história dos hebreus. José, senhor do Egito, concedeu um novo começo a seus irmãos, que o haviam vendido como escravo; Davi, homem segundo o coração de Deus, manchou sua biografia na educação dos filhos, numa contagem arbitrária e num romance pecaminoso com Bate-Seba. Autor dos mais belos cânticos antigos, traduziu no Salmo 51 seu arrependimento, confissão e, aceito por Deus, figura hoje grande rei. Saulo de Tarso, perseguidor voraz dos cristãos, teve seu re-começo, tornando-se o apóstolo Paulo, escritor inspirado de 13 livros da Bíblia, articulador primaz do pensamento cristão.
O ato ou exercício de pedir perdão-perdoar tem sido um dos mais listados nas
arenas relacionais. Nós mesmos e quantas pessoas amigas vivem dificuldades em perdoar ou pedir perdão? Não possibilitam a segunda chance porque costumam carregar na memória um “arquivo com erros alheios” e, na primeira oportunidade, jogam “na cara” ... Não aprenderam, não aplicam um dos mais repetidos ensinos de Jesus Cristo.

Nunca tantos profissionais da saúde diagnosticaram como hoje, os resultados advindos de ressentimentos, amarguras, falta de perdão, bloqueios de relacionamentos. As doenças no corpo, advindos de entulhos instalados na alma, conspiram contra a saúde causando isolamento, depressão e culpa.

Diferente do que muitos pensam, pedir perdão não é sintoma de fraqueza de caráter, muito pelo contrário; re-fazer um mal-entendido, reconhecer um ato ofensivo, aumenta e muito a consideração relacional. Afinal, não sabemos tudo e não acertamos sempre... Às vezes sem querer ou numa disputa, tomado por uma excitação emocional atacamos amigos, familiares, colegas de trabalho.

Diferente do que muitos pensam, o ato de perdoar ou exercer perdão é experiência de quem se reconhece perdoado e aceito por um Deus gracioso. Quem entende e se vê acolhido pela graça, sabe que precisará inúmeras vezes se re-fazer, dar o passo da reconciliação, logo, exerce aquilo que precisará.

Sobre o ato/exercício de perdoar/pedir perdão, algumas notas:

Perdoar não é um sentimento, é uma decisão. Decidi remover as barreiras causadas por um incidente entre nós, por isso te perdoo, por isso, peço-lhe perdão.

Há ofensas maiores e menores, mas o processo é o mesmo. “Com o tempo as coisas melhoram...” O perdão é o meio de sarar e superar conflitos, não é o tempo por si mesmo. Ainda que alguns conflitos longevos, leve algum tempo para serem superados.

Perdoar é uma marca visível do discípulo de Jesus. Devemos perdoar porque somos resultado do perdão de Deus. Aceitos por Deus, aceitemos o outro. Isso é mandamento, não uma opção.

“Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos os nossos ofensores” (Mt 6.12). Devemos conceder e pedir perdão. No dever de proteger, aprimorar e defender uma relação, estaremos do lado de quem pede ou de quem concede-o. Sempre, numa via de mão dupla. (O perdão é o único adendo feito pelo Mestre no Pai Nosso: Mt 6.14,15).

Para o Mestre, a saúde relacional vem antes do culto; a reconciliação é condição sine qua non para a entrega da oferta. Note do que se trata a lembrança (“...de que teu irmão tem alguma coisa contra ti” - Mt 5.23,24, e não o inverso); e quem é a iniciativa do acerto...

O perdão é condicionado: Somos perdoados por Deus quando perdoamos os outros; a condição é: Porque perdoamos, somos perdoados... Mt 6 12,14,15.

O perdão é incondicionado: Devemos perdoar quantas vezes for necessário, afinal, não sabemos por quantas vezes precisaremos do perdão de Deus e das pessoas: Mt 18.21ss. Não há pré-requisitos, pré-condições, o mandamento deve ser vivido quantas vezes a situação exigir. Um reparo, reabilitação, recomeço, tem uma marca: Um novo relacionamento! O demonstrativo de que houve perdão de fato e em verdade, é uma nova experiência relacional.

"Mas é algo tão pequeno, tenho de pedir perdão?" Como medir algo "tão pequeno"? Coisas pequenas também machucam.

Perdoar não necessariamente é esquecer. Nossa mente é um depósito de experiências e algo pode voltar na lembrança. Somos humanos. Se ocorrer a memória, devemos aproveitá-la para: Visualizá-la ao lado do Calvário. Cristo sofreu incomparavelmente mais. A ofensa perde tamanho, espaço e peso diante da Cruz de Cristo; exercer misericórdia- uma imagem mental do conflito poderá oxigenar nosso coração para a próxima oportunidade de exercer perdão; sabemos que o adversário lançará dúvidas para que nos sintamos diminuídos, humilhados, injustiçados. Ora, a lembrança do conflito vencido é nossa vitória sobre o eu! Alguém já disse: "Perdoar não é esquecer. Isso é amnésia. Perdoar é se lembrar sem se ferir e sem sofrer: Isso é cura! Por isso é uma decisão e não um sentimento".

As vezes uma ofensa causa marcas e efeitos danosos demais. E conviveremos com as consequências que o perdão poderá não desfazer ou minizar.

Um novo relacionamento é a marca legítima do perdão. Isso não significa necessariamente que a confiança voltará nos mesmos termos. As engrenagens relacionais leva algum tempo para se refazer – algumas são mais simples, outras, mais complexas, exigindo mediação para “negociar” possibilidades. O perdão é um ato, mas a amizade é uma (re)construção.

O exercício do perdão é uma das sagradas mutualidades da Bíblia: “Perdoando-vos uns aos outros se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também” (Cl 3.13) e “confessai as vossas culpas uns aos outros... para que sareis” (Tg 5.16). A cada novo incidente ou conflito, devemos melhorar nossa condição de perdoadores. 
Ao longo dos anos tenho concluído ser esta a maior das virtudes de um homem ou mulher de Deus: Tomar a iniciativa de pedir perdão, quando excedeu, ofendeu, feriu; conceder perdão não importe quem o quanto sinta-se ofendido, ultrajado, humilhado. Perdoar e pedir perdão nos melhora muito. By Geraldinho Farias

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